Don Toliver cria experiência visceral entre chamas e 808s no The Town

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No primeiro dia do festival, no sábado (6), ficará marcado na memória de quem esteve no Palco Skyline do The Town. O rapper Don Toliver subiu ao palco às 20h30 com uma atmosfera que misturava caos, distorção e devoção coletiva. Guitarras em chamas, graves 808 destruindo o ar e uma energia quase infernal tomaram conta da multidão que aguardava há horas pelo show.

Estive próximo ao palco, do lado esquerdo, e posso afirmar: se algum dia vivi ou presenciei o caos em sua forma mais pura, foi naquele sábado. Logo na abertura, Toliver trouxe KRYPTONITE, faixa de seu novo álbum Hardstone Psycho. O impacto foi tão intenso que o ar parecia rarefeito. Com 1.83m, precisei erguer a cabeça para tentar respirar. Não havia mais ar, só energia e descontrole.

A sequência com TORE UP tornou o ambiente ainda mais insustentável. Sinalizadores, rodas punks abrindo em todos os lados, gente sendo engolida pela massa. Vi principalmente mulheres sendo levadas pelo tumulto, e foi inevitável lembrar da importância de estar preparado fisicamente para encarar festivais desse porte. O que por um lado trouxe uma experiência única, por outro deixou cicatrizes, hematomas e lembranças de um caos que beirou o insuportável.

O ápice veio quando parte do público invadiu o fosso reservado a fotógrafos e credenciados. A situação levou a uma pausa de cerca de 20 minutos no show. Primeiro, o próprio Don pediu calma aos fãs. Depois, uma voz da organização insistia repetidamente para que todos dessem passos para trás e para os lados. Foi o chamado “pause show”, protocolo internacional de segurança adotado para evitar tragédias em eventos superlotados.

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Quando voltou, Toliver trouxe um clima mais controlado, quase celestial, para os que resistiram. Seu trap melódico, recheado de autotune e influências do R&B, lavou a tensão que havia tomado conta. Apesar disso, a interrupção fez com que hits importantes ficassem de fora, como No Idea, talvez o maior sucesso de sua carreira.

Mesmo com os percalços, a apresentação entregou intensidade do início ao fim. Don Toliver levou seus fãs do caos absoluto a uma espécie de renascimento coletivo, onde cada música funcionava como catarse. No saldo final, não foi apenas um show: foi uma experiência visceral, marcada por extremos, entre a brutalidade de um público entregue ao frenesi e a entrega artística de um rapper que soube transformar tumulto em memória histórica do festival.

por Rodrigo Falchioni

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