[Cabine da Pipoca] As desventuras de um jovem gay ou “Então, que gosto tem?”

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Quando assisti ao curta-metragem suíço “Cappuccino”, lembrei de minhas paixões platônicas na adolescência. Daquelas que nos tiram umas boas lágrimas e noites de sono. Daquelas que nos tiram um pouco o gosto pela vida. Daquelas que abalam toda nossa estrutura imatura e juvenil. O cinema tem dessas coisas: brinca com nosso imaginário e nos faz remexer nos baús da memória.

Dirigido por Tamer Ruggli, o curta de 2010 não conta com um enredo mirabolante e complexo. Muito pelo contrário: é simples, mas profundo. E, talvez por isso, tenha uma aura tão singela. Por isso é tão gostoso de assistir. “Cappuccino” conta a história do adolescente Jeremie (Benjamin Décosterd). De um lado, apresenta sua relação distante com a mãe Gina (Manuela Biedermann). De outro, sua paixão arrebatadora por seu colega de classe, Damien (Anton Ciurlia) que, a princípio, não demonstra ter desejo por pessoas do mesmo sexo.

Digo que todo gay já sofreu por amar um heterossexual. É como o porre: todo mundo já teve um na vida. Com nós, gays, é a mesma coisa: depois das dores da primeira paixão – não correspondida – por um heterossexual, aprendemos e procuramos não cometer os mesmos erros. Há outras pessoas, no entanto, que continuam sofrendo com esses amores impossíveis. No caso de Jeremie, há alguma sorte por algo se concretizar, mas nada que faça o curta-metragem terminar com uma bela e promissora história de amor.

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No entanto, “Cappuccino” não aborda somente uma paixão que não deu certo. Aborda as descobertas do próprio corpo e de novas sensações. De relações familiares que nem sempre são as melhores. De expectativas que criamos e que, muitas vezes, não são correspondidas. Desde a mãe fumante mais preocupada com sua vida pessoal do que com os dramas do próprio filho até a vontade se destacar entre os colegas da mesma idade (Jeremie usa um penteado em forma de chifrinhos), “Cappuccino” é mais profundo do que parece ser.

E para quem não vê relação alguma nisso tudo com o título do curta-metragem, sugiro ao leitor assisti-lo para tirar suas próprias conclusões. Com duração de apenas de 15 minutos, ele está disponível na íntegra e legendado para ser visto no YouTube. Confira:

Cabine da Pipoca

Nada de filmes por hoje. Larguemos a mensagem e nos direcionemos ao meio, que tal?

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Podemos dar diversas funções ao cinema, aos filmes, sendo essa variação justificada pelo interesse ou pela intenção do espectador. Eu, por exemplo, gosto de assistir a comédias quando estou cansada, estressada, com pouca vontade de pensar. Há quem seja diferente: prefira dramas, aventuras ou ação. Ocorre que poucas vezes, quando acabamos de ver um filme, discutimos-o. Acreditem, é legal. Mais legal ainda é existir clubes de cinema que, além das discussões, promovem sessões gratuitas e reflexões acerca da obra assistida.


Esses clubes são conhecidos como Cineclubes, que surgiram na França e vieram para o Brasil em 1929, com o ChaplinClub, no Rio de Janeiro. A associação não tem fins lucrativos e consiste num grupo de pessoas com um objetivo em comum: assistir e discutir obras cinematográficas. A iniciativa é importante, também, na democratização do acesso à sétima arte por aqueles mais carentes. Segundo o Ministério da Cultura, até o ano passado apenas 2% dos municípios brasileiros possuíam salas de exibição. Hoje, o país conta com 1.109 cineclubes espalhados pelo seu território.

O governo, com iniciativas como o projeto Cine Mais Cultura e a Programadora Brasil, do Ministério da Cultura, proporciona um canal alternativo na distribuição de filmes nacionais e internacionais que não entraram no circuito comercial.

Em Salvador, um dos cineclubes mais respeitados e tradicionais é o Roberto Pires. Ele foi criado em 2008, a partir de uma oficina de documentários e formação cineclubista e homenageia o cineasta baiano Roberto Pires, autor de clássicos como A Grande Feira (1961) e o primeiro longa baiano, Redenção (1959).

Na Bahia, os primeiros cineclubes surgiram na década de 1950, com a formação do Clube de Cinema da Bahia, por Walter da Silveira. Nesses clubes, os cineastas e intelectuais baianos, como Glauber Rocha (Deus e o Diabo na Terra do Sol), Roberto Pires (Redenção), Orlando Senna e José Umberto Dias tiveram acesso a importantes obras do cinema e discutiam sobre os filmes exibidos.

Confira se na sua cidade tem algum cineclube e aproveite o espaço. O bom da vida é poder agregar conhecimento.