[Total Flex] A poesia do jardineiro


Sempre o admirei. Por muitas vezes encontrei Ari Carlos Ferreira dos Santos trabalhando nos canteiros de Canoinhas-SC. Figura quase mítica na cidade, o jardineiro, além da habilidade e paixão por plantas, é um poeta de primeira.

Lembro da primeira vez que o entrevistei. Estava no Batalhão de Polícia Militar, cuidando das flores em uma estufa. Sujeito simples, com o olhar profundo e inocente, como uma criança que pede atenção. Lembro dos seus olhos, azuis, claros e brilhantes por detrás dos óculos. Falamos do seu processo de escrita.

Arcafes não estudou para isso. No auge da sua vida, foi topógrafo, em um tempo em que não era necessário diploma para exercer a função. Caiu aos poucos, por causa da bebedeira. E, agora, almeja subir aos poucos. “Ainda chego lá. Ainda dou a volta por cima.”

O destino ainda quis nos unir mais vezes: semanalmente, Arcafes escreve para o jornal Correio do Norte. Seus poemas/poesias trazem algo de essencial. Trazem a essência humana, a percepção do real por meio de uma visão completamente minimalista, mas não simplista. Uma visão complexa e, diria, completa do mundo.

Enquanto trabalha nos jardins públicos, a mente de Arcafes também trabalha a mil para desenvolver novos textos. Se a ideia é mesmo muito boa, nada custa tirar papel e caneta dos bolsos e anotar. Às vezes, confessa, escreve uma palavra que ainda não existe. Como descobre? Procura no minidicionário. Se não tem o verbete, é um neologismo. A ideia é justamente esta: apresentar aos outros as palavras que não são muito usadas, mas que dão sentido diferente à frase.
O sonho do jardineiro-poeta é escrever um livro. Na verdade, dois. Um com as poesias e outro com a sua biografia. Já tentou, mas o valor do investimento ainda é inviável. A voz calma e a serenidade das palavras mexem com o coração. Quem dera o jornalismo fizesse de mim uma pessoa rica para ajudar nessa realização. Afinal, o destino parece me dizer algo. Como uma missão, talvez. O que será?

[TOTAL FLEX] Criança sempre!

Dia 12 de outubro é comemorado o dia das crianças, essa fase maravilhosa da vida em que problemas não existem, discussões são apenas para não dividir o brinquedo e sonhar é fácil. Quando criança eu me lembro bem que não queria crescer, e quando mostrava meus desenhos de homens com pernas coladas na cabeça minha mãe elogiava e dizia que estavam lindos (quanta generosidade), me recordo dos “PARA CASA” do período escolar no “Jardim Dom Paulo” que pareciam riscos enormes e desafiadores, me lembro de aprender a dirigir na máquina de costura que tinha lá em casa esquecida no canto, era bom quando o meu pai me dava R$ 1,00 e eu realmente acreditava que aquele dinheiro dava pra comprar todos os doces vendidos na escola pela dona Vanda que ficava cercada no trailer branco. Me lembro ainda de quando o papai vinha e encostava sua barba nas minhas bochechas (e como espinhada!!!) e dizia: “Você é de que quem?” e eu com a resposta mais que ensaiada devido as diversas vezes que fui questionada respondia com um sorriso nos lábios: “Do senhor papai”. Brincadeiras de rua, primos (as), amigos (as), travessuras, encrencas, dias de sol, tardes de chuva, noites com estrelas.

A minha infância foi o momento em que com o coração eu enxerguei o mundo, ou ao menos parte dele sem intervenções alheias que pudessem construir minha opinião, não tinha noticiários e muito menos argumentos quem fizessem construir algum conceito, eu tinha o meu próprio conceito da vida, e do jeito que ela deveria ser vivida, tanto conceito e cheia da opinião que eu gostava tanto do Natal (como ainda gosto) que acreditava que aquele clima natalino duraria enquanto houvesse uma árvore de natal e minha casa e as luzinhas continuassem a piscar, eu acreditava fielmente que na noite do natal o menino Jesus levava o Papai Noel lá em casa pra poder um novo presente me da. Talvez o Natal seja de fato isso, enquanto houver alguma luz acesa dentro de nós mesmos as coisas boas prevalecem. Talvez essa seja a explicação da pureza infantil: Crianças constroem sua própria verdade com base naquilo em que realmente acredita e os princípios passados pelos seus pais e pessoas que convivem dentro da mesma casa.
Hoje aos 24 anos no ápice da minha juventude olho pra minha sobrinha (minha pequena Marianny de 3 anos) e vejo muito de mim nela, e ao mesmo tempo não vejo nada, ela se rende aos encantos da sua infância sem ao menos imaginar que aquele período será o melhor da sua vida e ela vai ser recordar em memorias distantes quase apagadas de tudo que vivemos hoje, até gosto de saber que vou fazer parte de suas memorias, assim como hoje tenho as lembranças de tudo que vivi quando criança, é engraçado pensar mas existem pessoas além da minha família que fazem parte da construção do meu eu que se quer imaginam que no mergulhar dos meus pensamentos as vejo, praticando exatamente o que eu vi na infância, gostaria de citar alguns personagens que fizeram parte da minha dramaturgia infantil: O “Seu Baiano” do picolé, a dona Aurora que limpava a igreja, o Jandair um andarilho que eu o via andando pelas ruas do meu bairro, a moça da padaria, a tia Karine (professora da quarta-série), a moça que vendia doces na porta da escola, a Luana uma amiga da escola que nunca mais a vi mas me lembro exatamente da sua feição de criança e um pouco das nossas conversas no recreio, a menina que me atendia na papelaria “Coisa e Tal” e eu não gostava da cara dela, o Cássio da Vila Belém… São tantos personagens que se apresentaram, que tiveram algumas pontas, algumas conseguir rever, e outras estão por ai perdidas em mundo gigante e que para reencontra-las eu gostaria que fosse pequeno.
Feliz Dia das Crianças!!!