[Cantinho Literário] Dos meus olhos, no meu jardim

Fabrício Cunha


As crianças da rua da minha casa parecem não cansar. A todo momento, pelo menos nos momentos em que as vejo, estão correndo, brincando, gritando. São assim. Ligadas em 220 volts. É o que há de mais belo nesse período da vida. Ser feliz, apenas se preocupando em ganhar algum jogo, em fazer a lição de casa ou, no máximo, lavar a louça do almoço.


A beleza está nos olhos de quem vê, de quem já passou por esse período, de quem deseja voltar a ser criança. A beleza que só os corações ainda puros conseguem perceber de cara. A beleza que qualquer um consegue observar, se dedicar um tempo a isso.
No jardim dos meus sonhos, as flores são reais. Delicadas, suaves, em um tom de roxo diferente, mais vivo, mais bêbado. No jardim com o qual sonho, sinto cheiro de terra. Sinto o sabor do barro na sola do sapato e o cheiro do mato verde esquentado pelo sol.

No jardim com o qual sonho, enxergo a mim mesmo. Enxergo um futuro desconhecido, sem detalhes, sem algo formado. Enxergo beleza no que faço, mas é só. Não identifico formas, palavras, imagens claras ou suspeitas de movimentos. Apenas sei que escrevo. E, para mim, isso basta. Isso é belo, nesse exato período da minha vida e no futuro, creio. A beleza que procuro nos outros, nas coisas, nas cores, é a beleza que desejo traduzir em texto. Sem imaginações ou cenas construídas, mas com traduções da vida real.

No jardim dos meus sonhos, não desejo enxergar tristezas, mas sei que será inevitável. Às vezes, a dor também é bela porque faz crescer, faz ser. Ser alguém melhor, com uma visão melhor e caráter de gente. Caráter de gente que escreve para gente histórias de gente. A beleza está nos olhos de quem vê, mas é preciso saber enxergar. É preciso querer enxergar.

Por Fábio Rodrigues

Cabine da Pipoca

Sonhos todos nós temos, dos mais simples até os mais inusitados, temos que correr atrás deles, para que não se tornem meras frustrações em nossas vidas, e o que nós queremos mostrar hoje na nossa Cabine da Pipoca é que por mais impossível que seja nossos sonhos, nunca podemos desistir, ainda mais se tivermos amigos para compartilhar esses momentos.

Essa foi uma pequena introdução para relatarmos sobre o filme Colegas, vencedor do Festival de Cinema de Gramado 2012.
O longa traz a história de três amigos com Síndrome de Down, abordando da forma mais simples e poética as realizações desses jovens, que só queriam buscar a felicidade e curtir a vida.

Conversamos com o diretor do filme, Marcelo Galvão, que nos contou um pouco sobre a história do filme, entre outras coisinhas mais.
Se liga abaixo, na entrevista que ele nos concedeu a O Barquinho:

1- Como foi e quanto tempo demorou a gravação do filme?

A filmagem do Colegas foi um processo incrível e poderá ser conferido pelo público quando lançarmos o documentário “Três Vidas e um Sonho”. Foram 12 semanas de muito trabalho e dedicação: ficamos 10 semanas na região de Paulínia (SP), uma semana no sul do Brasil e uma semana na Argentina.

2- O elenco pelo que estávamos lendo no blog do filme, é bastante interligado e conectado entre si, certo?! Como foi a reação da equipe ao ganhar o prêmio de Melhor filme do 40ª edição do Festival Cinema de Gramado?

A turma do Colegas é muito unida, somos uma família, este filme criou laços profundos de amizade entre muitas pessoas da produção e do elenco. Quanto ao Festival de Gramado, foi emocionante e inesquecível o momento em que Colegas foi anunciado como Melhor Longa Metragem Brasileiro. Depois de sete anos de muito trabalho e dedicação, vencer um prêmio tão importante como este foi um coroamento maravilhoso.

3- Sobre a captação de recursos, veio de empresas privadas, do próprio bolso ou do governo? Vocês acham que o Min. da Cultura tem investido no cinema e na cultura em geral no país, ou precisa se formar melhor e investir mais neste nicho?

Colegas é meu quinto longa-metragem, mas foi o primeiro que fiz com recursos de leis de incentivo provenientes de empresas e também do governo. Quanto ao Ministério da Cultura, acho que eles têm investido de maneira significativa em cinema, contribuindo muito para a evolução deste setor no Brasil, inclusive com nova lei e ações que fomentam os negócios das produtoras independentes. Posso dizer que somos privilegiados em relação ao demais países, pois o Brasil é o único lugar do mundo onde existem leis de incentivo à cultura.

4- Vocês tiveram algum tipo de preconceito, pelo filme se tratar de pessoas com Síndrome de Down e algumas empresas não quiserem associar sua marca ao filme? Como vocês reverteram essa situação para agregar outras empresas patrocinando ao filme?

Sim, enfrentamos muito preconceito na captação de patrocínios. Muitas empresas alegavam não ter interesse em associar a marca a um projeto com pessoas com síndrome de Down, sem perceber que o filme é muito maior do que isso. Colegas é um filme sobre sonhos, coragem, superação, amizade, amor, temas estes que são universais e atemporais. Além disto, o grande barato do Colegas acontece quando você esquece que os atores são Down – a partir daí, a gente se envolve com os protagonistas, se emociona, ri, torce por eles. Felizmente, conseguimos captar patrocínio junto aos que viram o filme como um incrível projeto de inclusão social e valorização da diversidade através do cinema e fizeram nosso sonho se tornar realidade. São eles: Sabesp, Prefeitura Municipal de Paulínia, Petrobras, Neoenergia, AkzoNobel, KSB, Libbs, NET, Locaweb, CVC, Docol e Senac.

5- O filme é um retrato para mostrar a sociedade de que as pessoas com Síndrome de Down podem sim terem uma vida normal como qualquer outra pessoa?

Antes de mais nada, o filme mostra que não existem limites para os sonhos. Quando você percebe o exemplo dado por três jovens Down que saíram em busca de seus sonhos, surge a reflexão “o que acontece na vida da gente quando vamos em busca dos nossos maiores sonhos?”. Colegas vai desmistificar o tema “Síndrome de Down”, mostrando a surpreendente capacidade desses jovens. Com isso, esperamos quebrar paradigmas e ajudar a combater o preconceito.

6- Agora que vocês já ganharam o Kikito de 2012, quais as próximas artimanhas que vocês pretendem almejar, perante ao filme?

Queremos percorrer vários festivais de cinema no Brasil e exterior e lançar o filme no circuito comercial das salas de cinema do Brasil em 9 de novembro de 2012. Até lá, criamos um projeto de crowdfunding no site Catarse para levantar recursos para estarmos no maior número possível de salas de cinema no país. Quem quiser ajudar, visite: www.catarse.me/colegas. Há recompensas bem interessantes para quem investir no filme.

7- Para finalizar, conte-nos um pouco sobre a estreia oficial e como vocês pretendem promover o filme na semana de lançamento?

Como falei, a estreia está confirmada para 9 de novembro de 2012 através da Europa Filmes. Prevemos diversas ações na mídia para dar visibilidade ao lançamento nacional, bem como participação em eventos ligados à inclusão social. Acabamos de participar do I Seminário Nacional sobre Síndrome de Down de Vitória da Conquista (BA) e nossa ideia é marcar presença em muitos debates do gênero.

Trailer:

Mais informações:BlogFacebook

Por: Patricia Visconti