“Um disco negro para todas as cores”. Essa foi a frase que um jornalista usou para definir o álbum “Refavela” na época em que ele foi lançado.
O termo Refavela de acordo com o próprio Gilberto Gil, nasceu em sua visita a África nos anos 70, época em que junto de sua banda teve a oportunidade de tocar no festival Festac. Durante os dias que passou na Nigéria, o cantor conta que teve a oportunidade de se reconectar com suas raízes e muitas das experiências vividas nessa viagem e após ela influenciaram na identidade de Refavela.
No ano de 2017, Gil e sua banda relançaram a turnê do disco e rodaram o Brasil tocando grandes sucessos de um dos trabalhos mais importantes da música brasileira. O documentário da HBO, que leva o mesmo nome da turnê, Refavela 40 trabalha justamente em cima disso: um paralelo entre a época do lançamento do disco até a nova turnê.
É interessante pontuarmos como o documentário consegue colocar entre os depoimentos dos convidados, imagens das apresentações das canções de Refavela no passado e em momentos mais atuais, além de explicar de maneira clara o que acontecia na época e o por que o lançamento do disco foi tão importante naquele contexto.
As histórias de bastidores que desvendam como cada faixa do álbum foram produzidas valem cada segundo de tela, mas muito além disso a produção consegue dar uma aula sobre os movimentos artísticos negros da época que foram acolhidos por Gil como referências importantes.
Sem dúvidas podemos dizer que Refavela é um retrato de tudo que estava acontecendo naquele momento, mas que poucos artistas tiveram a capacidade de enxergar. Passando pelas influências do candomblé, do samba carioca, da música africana, da música cubana, do reggae de Bob Marley e o soul americano entendemos porque o disco é tão único. E apesar do formato padrão de documentário, a produção consegue ser extremamente envolvente, seja nos momentos que acompanhamos a história da música negra, a história de Gilberto Gil ou até quando nos deixamos embalar pelas ótimas canções que fazem parte da nossa cultura.
Por Gabriela Ruiz