O novo projeto de Brandão85, lançado no dia 18 de junho, é uma viagem sonora marcada pela diversidade de influências, que vão desde o Trap até incursões por outros gêneros. O artista, integrante da gravadora 30PRAUM, começa o projeto de forma suave e promissora, preparando o ouvinte para algo grandioso, mas, ao longo das 22 faixas, se perde em uma mistura de estilos e atmosferas.
A proposta inicial de uma jornada musical cede espaço a um catalogo para todos os gostos de sons que, embora interessantes, acabam se tornando repetitivos. A colaboração com grandes nomes, como o produtor BNYX, eleva o nível do álbum, mas não é suficiente para manter a coesão da narrativa que parecia se construir a princípio.
O álbum estabelece uma vibe calma, preparando o ouvinte para algo mais instigante. Essa introdução dá o gostinho de “algo mais” que está por vir, mas à medida que o álbum avança, essa expectativa vai diminuindo. O que segue é uma mistura que alterna entre momentos mais introspectivos e outros de energia pura. Entre esses extremos, a presença de colaborações importantes, como o quarteto de rappers da antiga gravadora Hash Produções, oferece uma conexão com os fãs mais antigos, especialmente pela música “100% MOLHO“, que funciona quase como um cypher — um momento de celebração e reencontro para quem acompanha esses artistas.
Enquanto isso, o álbum faz escolhas interessantes como adicionar o bordão sonoro: ISSO É TRAP MIXTAPE a partir da faixa 3, escolha que foi feita também pelo artista Lil Tecca no seu album “DOPAMINE” há um desvio interessante ao adotar uma estética retrofuturista com algumas faixas, especialmente em “TRAPLIFE“. A introdução de sintetizadores cria uma atmosfera única, que mistura o nostálgico com o moderno, com ares de ficção científica, lembrando até uma trilha de Stranger Things da Netflix.
Essa ousadia é um ponto positivo, mas é rapidamente deixada de lado à medida que a proposta volta para o Trap mais comum, com letras focadas em ostentação e superação. Os instrumentos usados e as escolhas feitas para o desenvolvimento musical em algumas faixas são bem trabalhadas e lembram o estilo de outros artistas da mesma gravadora, como Matue. As melodias, por sua vez, se tornam um ponto forte, músicas que crescem em intensidade e conseguem envolver o ouvinte de forma quase sensorial.
A experimentação também aparece em faixas mais voltadas para a balada, como “BÁSICO“, onde o produtor BeatsByNice se destaca com uma batida cheia de camadas e samples bem distantes do que o gênero costuma apresentar. Isso traz uma autenticidade ao álbum, diferenciando-o da fórmula muitas vezes repetitiva de batidas genéricas que dominam o cenário. A parceria com Desiree em “ACIMA DAS NUVENS” também abre um leque de novas possibilidades, misturando o Trap comercial com uma carga emocional que conecta com o ouvinte de maneira mais pessoal, o Brandão85 mexe com o imaginário do público compartilhando seu próprio universo afetivo, fomentando um arquétipo de Rihanna e ASAP ROCKY sonhado por seus fãs, uma representação moderna do casal Bonnie & Clyde.
A partir de determinado ponto, o álbum ganha contornos mais positivos e otimistas, especialmente nas faixas que falam sobre sonhos e superação. Há uma tentativa de aprofundar a mensagem, trazendo uma musicalidade mais trabalhada, que vai além das batidas, como em “SONHOS“, onde a vibe do boombap e a sensação de estar ouvindo uma banda ao vivo trazem uma energia nova. Esse momento de transição oferece uma reviravolta interessante no álbum, apresentando uma faceta mais madura do artista, que busca não apenas impactar com o som, mas também com a mensagem de positividade e resiliência.
Entretanto, à medida que o álbum se aproxima de sua metade, os momentos de inovação começam a se tornar mais escassos, posso citar três deles até o final do album, a faixa “OH MY BABY” é uma grata surpresa, traz uma pegada romântica e intimista junto com os vocais do artista americano Che Ecru que eu particularmente não conhecia, “BABY GIRL” tem uma pegada de reggae muito gostosa de se ouvir e por fim “UMA LUZ” coloca Brandão85 em um estilo de rock indie que acaba sendo o tipo de situação que só você ouvindo para acreditar.
A repetição do mesmo fluxo de batidas lentas e BPMs semelhantes começa a ser cansativa. Mesmo nas faixas que contam com colaborações interessantes, como a com Jé Santiago, o álbum se perde na coesão do projeto em uma tentativa de agradar ao público com fórmulas já estabelecidas, sem arriscar tanto quanto poderia. A introdução de estilos diferentes, como o reggae e o rock indie, em algumas faixas, também surge como uma tentativa de quebrar a monotonia, mas o efeito não é o esperado. A transição entre esses gêneros e o trap não é tão fluida quanto poderia ser, fazendo com que algumas faixas soem desconexas.
O titulo do album já indica o que esperar, pois ele inicia com uma promessa de inovação, jornada sonora que mistura o melhor do trap com toques de nostalgia e futurismo. Porém, à medida que a narrativa se desenrola, a mistura de estilos acaba se tornando um emaranhado de ideias que se perdem, muitas vezes, na repetição de elementos sonoros. Embora os feats, como a colaboração com o produtor BNYX, tragam um frescor necessário e uma porta internacional interessante para a cena brasileira, o álbum não consegue se manter coeso e perde a força da proposta inicial. As mudanças abruptas de estilo e a superexposição de uma fórmula trap tradicional que já está se debatendo sobre saturação deixam o álbum cansativo, especialmente na segunda metade.
Talvez se contasse apenas com 13 faixas, o álbum teria um impacto muito mais duradouro, instigando o ouvinte a revisitar o trabalho com mais interesse. No entanto, o excesso de músicas acaba afastando essa possibilidade, fazendo com que o ouvinte se perca no caminho e não consiga sentir a evolução contínua do artista. A busca por uma diversidade de sons é válida, mas a falta de coesão ao longo do álbum prejudica a experiência. A ideia de criar uma jornada musical se perde nas mudanças de tom e nas tentações de seguir uma fórmula mais comercial. O álbum deixa claro sobre o que se trata em suas varias chamadas de rádio ressaltando o nome do album, no fim das contas: ISSO É TRAP MIXTAPE .
por Rodrigo Falchioni




