Na vida muitas questões são postas à mesa em diferentes situações, e a busca pelo desapego de algo costuma machucar bastante. É dentro dessa fórmula que o filme Faça Ela Voltar (Bring Her Back) trabalha uma mãe à beira da insanidade, lutando para fazer sua amada filha de voltar, nem que para isso tenha de optar por cometer atrocidades.
O longa tem assinatura dos irmãos diretores Danny e Michael Phollippi, com roteiro de Bill Hinzman, composta pelo elenco de atores, Sally Hawkins, Jonah Wren, Billy Barrat e Sara Wong, com produção do estúdio A24, mesmo responsável por filmes como Deixe-me Entrar e A Bruxa. Hollywood produz filmes de terror a rodo todos os anos, dificilmente tem algo na safra que consegue surpreender o público, isso porque a maioria usa dos clichês mais básicos para tentar captar o medo da audiência. No meio disso tudo, sempre tem um ou dois diferentes, e a mídia já consolida como sendo o melhor do ano, mesmo quando é apenas um bom arroz com feijão.
Dito isso, essa história gira em torno dos irmãos, Andy e Piper, dois órfãs direcionados para morar num lar adotivo após a morte repentina do pai. Nessa casa nova, o cuidado deles fica a cargo de Laura, uma ex-assistente social bastante animada, eles também ganham um irmão adotivo, o pequeno Oliver. Para além do terror empregado na película, um detalhe se sobressai de maneira nítida, isso é a interpretação do ator Jonah Wren Phillips, como Oliver, o primeiro órfão adotado por Laura. Esse garoto é responsável pelas cenas mais perturbadoras do filme, e também é dele a cena mais emocionante da história no final da trama.
Não menos visceral, e com camadas postas de maneira crua, Sally Hawkins, como intérprete da assistente social Laura, centraliza uma história engomada no luto de maneira extremamente perigosa e intensa, algo realmente admirável num filme de terror. E por falar em terror, é importante talvez colocar luz sobre qualquer equívoco com relação a essa trama, isso porque nesse quesito Faça Ela Voltar, caminha dentro da seguridade do tempo, e convenhamos, não tem tantas cenas de gore como talvez o marketing faça parecer. Apesar disso, as cenas aqui são de fatos crus e muito bem feitas ao ponto de incomodar pela brutalidade, também tem o fator trilha sonora que complementa a crescente na tensão imposta, oriunda das ótimas atuações carregadas de medo e sentimento.
O tema central dessa narrativa é o luto e o drama de não saber a hora de desapegar, até mesmo perdoar ações e decisões passadas. O roteiro tem tempo suficiente para desenvolver cada arco, e faz isso com bastante esmero na maior parte do filme. Andy e Piper têm uma relação comovente como irmãos e vão da união à desconfiança, principalmente quando segredos são revelados escancarando uma relação frágil, com traumas nunca antes conversados entre eles, centelhas colocadas por Laura.
Em sumo, tanto o sobrenatural quanto o horror aqui são artifícios alegóricos bem trabalhados, tem uma direção ótima de fotografia e maquiagem também lapidado, é redondo e funcional e dentro das quatro linhas seguras de uma boa construção. Tudo isso é claro, não significa ausência de pontas soltas, pelo contrário, a história deixa tudo com relação a Laura e o sobrenatural em segundo plano quando o assunto é quem ensinou, como foi que ela teve contato com isso, e desde quando ela usou o Oliver como cobaia nesse ritual? Pequenos recortes do possível primeiro experimento ficam a mostra sempre que necessário, o simbolismo também anexa uma obscuridade ainda maior, mas nada de respostas fáceis.
Faça Ela Voltar certamente vai entrar na lista de melhores do gênero terror de 2025, e alguns vão cravar desde já que esse é o melhor do ano. Mesmo faltando quatro meses para finalizar 2025, e uma enxurrada de lançamentos até o dia 31 de dezembro. É um exemplar filme de terror, isso é inegável, tem tudo para entrar para história de acertos da A24, mas aqui ele ainda precisa se provar diante dos outros lançamentos do ano.
por Daniel Guimarães




