O que deveria ser um dos maiores encontros do rap e do trap no país terminou em frustração. Pelo terceiro ano consecutivo, o festival Cena não conseguiu entregar a experiência prometida, acumulando cancelamentos, instabilidade na programação e episódios que evidenciaram uma organização incapaz de se aproximar da excelência apresentada em 2022, considerada a melhor edição do evento.
Desde o primeiro dia, a edição deste ano já dava sinais de que algo não caminhava bem. Artistas como A$AP Ferg, Lil Gotti, Oodaredevil, Zukenee e Ryu tiveram suas apresentações canceladas. Ryu The Runner só foi informado sobre a suspensão de seu show quando já estava no local. Esses cancelamentos criaram lacunas na programação que não foram preenchidas de forma clara ou estruturada. A justificativa da organização, citando “fatores internos e externos”, foi considerada vaga e insuficiente pelo público.
Nos bastidores, o cenário também era de tensão. No sábado, uma confusão entre seguranças e a equipe do rapper Major RD terminou com a explosão de uma bomba de efeito moral, episódio que se espalhou rapidamente pelas redes sociais. Artistas brasileiros relataram falta de informações, camarins incompletos e falhas técnicas durante apresentações. O artista Alee chegou a ter o microfone cortado no palco, sendo sustentado apenas pelos fãs que seguiram o show na voz. A sucessão de problemas aumentou a sensação de descontrole e desgaste com o público, gerando ceticismo sobre a capacidade da organização de honrar compromissos.
Cancelamento do último dia expõe falhas graves na estrutura
O desfecho da crise veio neste domingo (23). A Neo Química Arena anunciou que o último dia do Cena estava cancelado após recomendação da Polícia Militar, que realizou uma nova vistoria para checar os serviços essenciais ao público. Entre os shows que não aconteceriam estava o do rapper Young Thug, principal artista e headliner do festival. Segundo a arena, a avaliação da PM foi de que o evento não oferecia os serviços médicos necessários para a realização segura do público. Nos dois primeiros dias, esses serviços haviam sido liberados, mas a nova análise considerou insuficiente o que foi apresentado para o encerramento da programação. Sem condições básicas garantidas, a orientação foi suspender o dia final.
Público reage com revolta e questiona o futuro do Cena
A reação dos fãs foi imediata. Nas redes sociais e dentro da própria arena, críticas à organização se tornaram constantes. Muitos relembraram a qualidade da edição de 2022 e reforçaram que, desde então, o festival não conseguiu repetir a força artística, a estrutura e o planejamento que tornaram aquele ano um marco. O público alegou desrespeito, falta de transparência e despreparo, enquanto artistas nacionais também demonstraram frustração com as condições de trabalho. A sucessão de problemas, cancelamentos e falhas gerou desconfiança tanto do público quanto dos músicos em relação à credibilidade do evento.
A nota divulgada pelo festival, afirmando que o trap nacional manteria o “peso” da programação apesar das baixas, não acalmou os ânimos. Para grande parte dos presentes, a credibilidade do Cena sofreu o impacto mais profundo desde sua criação, e a confiança para futuras edições se tornou incerta. Agora, o evento terá de lidar com pedidos de reembolso, perdas reputacionais e a dúvida sobre sua capacidade de se reestruturar para continuar no calendário cultural brasileiro.
por Vitor Feitoza

