Babilônia – O excêntrico filme de Damien Chazelle

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Hollywood de 1920 pode soar um tanto romântico e melancólico pelo que conhecemos das superproduções mudas com seus heróis másculos e musas femininas frágeis e angelicais… E para despir (no mais exato sentido) este estereótipo, Babilônia se inicia no mais alto tom da luxúria fugaz da época.

Damien Chazelle, alcançou os louros do sucesso cinematográfico com seu inesquecível estardalhaço em La La Land, o filme musical. Agora como roteirista e diretor de Babilônia, é nítido observar alguns dos mesmos traços sonhadores em cada personagem.

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Porém, não posso prolongar os comentários sem avisar previamente que Babilônia é um filme sem censura aos excessos – em todos os sentidos. Apenas depois de 32 minutos do início do filme vemos o título de abertura, estrategicamente bem colocado em meio a peculiar festa na casa de Jack Conrad (Brad Pitt), que escancara todas as paixões, vaidades e vontades da alma jovem, desenfreada e inconsequente das personas que compõe o cenário artístico da época. Essas cenas iniciais acabam por revelar perfeitamente o porquê do filme se chamar Babilônia.

A nudez e sexo aos cantos não acabam por chamar mais atenção do que a velocidade de cada acontecimento em que a câmera se detém, nestes poucos minutos somos bombardeados pela música, por uma morte por overdose, uso deliberado de drogas, doses de muita luxúria com desconhecidos de todos os tipos estando a maioria fantasiada e um elefante, claro. Nada com sentido estabelecido e ao mesmo tempo retratando o conjunto de uma história que até então nunca antes foi tão explicitamente retratada.

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Apesar de ter muitos personagens interessantes, o filme não tem por objetivo se aprofundar em nenhum, porém, há personagens de fácil apego com a jornalista dos temidos jornais da época, Elionor St Jhon (Jean Smart), Anna May Wong (Li Jun Li) como a cantora sensual e amiga íntima de Jack Conrad, e claro, James McKay interpretado por Tobey Maguire que também é um dos produtores de Babilônia juntamente com Olivia Hamilton, Marc Platt, Matthew Plouffe.

Entretanto, o filme dá um leve destaque à Manny (Diego Calva), Nellie LaRoy (Margot Robbie) e Jack Conrad. E a cada progresso individual dos personagens, vemos também o avanço indiferente e a passos largos, do mercado cinematográfico ao passar do tempo. Babilônia tem a ousada aspiração de ser um filme em que você se apega a um pedaço da trajetória de qualquer dos personagens para no final entender em um grande throwback, que a arte transcende o tempo de vida dos seus fantoches.

A trama apresenta a decadência da superficialidade e frustração que envolve a vida particular de Jack Conrad, que no decorrer de eventos repetidos em sua vida, acabam por levá-lo ao fim de conseguir grandes contratos que antes possuía, por não conseguir se encaixar à novidade do cinema falado e cantado. Porém, essa mesma mudança do cenário cinematográfico acaba elevanto o “faz-tudo” Manny para o cargo de Produtor renomado por ter descoberto e lançado o grande saxofonista Sidney Palmer, que por ser negro, também evidencia as deficiências do quão raro era o acesso a fama por pessoas de cor e algumas das adaptações que eram necessárias na época para agradar á maioria do público alvo das produções, os brancos.

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Nellie LaRoy é a protagonista sonhadora e desinibida, que inicia sendo uma aspirante à artista e por sorte e empenho da mesma, acaba se tornando um dos grandes nomes das produções mesmo na passagem do cinema mudo para o falado, entretanto, seus excessos em jogos de casino, as dificuldades em agradar a crítica da época e por não querer se tornar uma personagem fora do cinema, para parecer uma dama perante a alta sociedade, acabam por naturalmente excluí-la pouco a pouco dos trabalhos que resistem a veloz mudança de temperamento do público.

E é essa velocidade indiferente que acaba sendo ingrediente pontual usado pelo diretor de Babilônia para tornar o filme de época algo relevante para nosso tempo. A mensagem do filme acaba sendo maior que todos os seus personagens, que ironicamente sonham com esse propósito, fazer parte de algo grande. E o grande final acaba encaixando todas as peças, misturando personagens da ficção e personalidades da realidade em uma única junção que se trata da própria essência do que conhecemos do cinema. É genial, poético e excitante.

Portanto, Babilônia, pode sim, ser vista como mais um filme indicado ao Oscar por retratar os excessos de uma década de ouro do cinema, mas isso é reduzir e muito todo o sentido e proposta que nos é apresentado em suas míseras 3h09 de duração, que passam, inacreditavelmente, rápido demais. Esse é o sentimento proposital que sentimos ao sair das cadeiras do cinema.

por Nay Souza

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