Trina Robbins ganhou notoriedade na cena mainstream dos quadrinhos, por ser a primeira mulher a desenhar Mulher-Maravilha na década de 1980, levando à personagem e também a Themyscira a essência visceral do feminismo para a amazonas e guerreiras que lutam pelo amor e as forças do mal. Porém, sua trajetória na cena quadrinística começou muito antes disso, lá nos anos 50, quando Trina fazia histórias de ficção científica para fanzines e revistas alternativas.
Uma feminista árdua, Trina nunca deixou isso implícito em suas obras, sempre autêntica, a artista se envolvia intensamente pela luta e igualdade das mulheres na sociedade, tornando referência significativa para futuras gerações que inspiraram em sua ideologia para adentrar e mergulhar a fundo no universo dos quadrinhos e editorial.
Lembro quando ela veio pra BR, mas lembro só das histórias que ouvi, pois era com convidadas contadas. Da energia q ela colocou todas pra cima, d se assumirem como quadrinistas. Saber disso fez com q uma Renata no início de carreira se sentisse forte. Obrigada por tudo Trina. https://t.co/1hwC9Ov9P9
— Loucas Historinhas 🏳️🌈 FIQ e PocCon (@renatalzz) April 11, 2024
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Trina esteve no Brasil em 2015, para um evento fechado no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista, conheceu autoras e quadrinistas brasileiras que estavam presente no evento, expressando com contentamento essa referência ímpar que tantas garotas tinham por ela, como a professora e pesquisadora Dani Marino, que aproveitou deste encontro para desenvolver sua pesquisa acadêmica, sobre a produção de quadrinhos entre as mulheres. Que além de referir-se a sua tese, Dani reuniu várias artistas e autoras para lançar em 2019, pela Editora Skript, o livro Mulheres & Quadrinhos, onde tem um entrevista com Trina.
“Durante o encontro, que também acabou definindo o rumo da minha própria pesquisa acadêmica, Trina contou que se mudou de Nova York para São Francisco no final dos anos 1960, devido à falta de oportunidades paras as quadrinhistas por lá, enquanto as HQs underground estavam em ebulição do outro lado do país“, relatou a pesquisadora em seu artigo, para o site Universo HQ.
A artista enfrentou o machismo e segregação masculina com sua perpicácia, levando visceralidade humana e envolvente a cada tira, quadrinho ou livro publicado, mostrando com plena efervescência seu principal propósito diante um mundo tão fechado e burlado para as mulheres. Sendo ativista não apenas do feminismo, mas das minorias, já que foi a primeira autora a lançar a primeira HQ com uma personagem lésbica dos Estados Unidos – Sandy Comes Out (1972) -, causando incomodo aos editores mais conservadores, mas revolucionando a maneira de expressar os quadrinhos de super-heróis.
A quadrinista foi uma incentivadora sagaz em mostrar com veemência o âmago feminino, e quão as mulheres podiam ser e fazer o que queriam, do jeito que bem entendem, não importava com críticas e nem lamentações, ela apenas reunia o seu “clube da Luluzinha” e levava a arte dos quadrinhos até as garotas, para mostrar que elas sempre estiveram lá produzindo com clareza e destreza, só precisam de um apoio singular encontrado em Trina, que por décadas recebia diferentes histórias e ilustrações, que lhe renderam publicações históricas como Pretty in Ink (2013) e Great Women Cartoonists (2001).
Uma mulher expressiva que não se calou até seus últimos dias, sempre comprometida em difundir seus ideais, Trina Robbins trouxe toda sua essência a cada arte e página produzida, refletindo os sentimentos mais intrínsecos diante as adversidades obscuras e discrepantes de uma sociedade misógina, machista e hostil.
A autora que faleceu na manhã no dia 10 de abril de 2024, deixa um legado admirável, não apenas para as mulheres dos quadrinhos, mas à todas, que lutam por seus anseios e objetivos, sem descanso, incentivando e unindo a contra os males que desprende da humanidade.



