Faridah Àbíké-Íyímídé apresenta uma literatura abrangente, categórica e referente, diante as objeções da sociedade abusiva e patriarcal

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Hoje em dia muita gente dita regras, mas poucos sabem ser convicentes e sagazes em persuadir tal mensagem, partilhando de momentos significativos que refletem significativamente na vida das pessoas, e não pessoas dizer por dizer, para ganhar “likes” e “followers”, enquanto longe dos holofotes, tudo que se diz não passa de balelas moralistas, sem relevância alguma para entreter, agregar e somar, diante da sociedade, com obras vazias e baratas.

Mas, há aquelas que não apenas aproximam o leitor, como busca novas visões de mundo, trazendo equidade, informação e diversão, sem pesar no tema e nem visar o sensacinalismo desacerbado, que ganha às manchetes atualmente. E ainda, vindo de uma jovem autora, que aos 26 anos, expressa com sagacidade temas divergentes e eloquentes, em rotinas comuns, envolto de histórias dramáticas e divertidas, trazendo protogonistas femininas ao centro de cena, com debates interessantes e distintas camadas, colocando em evidência fatos relevantes dos quais a sociedade aparta ou ignora tais episódios.

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A autora inglesa Faridah Àbíké-Íyímídé, representa de forma eminente e referente fatos pontuais de segregação, discriminação e sexismo, em seu novo livro Onde repousam as mentiras, um suspense-psicológico, que mostra ao centro da trama uma jovem que sente a dor de uma perca muito eminente em sua vida, e precisa seguir sozinha sua vida, longe dos fantasmas do passado, mas um novo drama adentrará em sua vida, com o desaparecimento de alguns colegas de classe de sua nova escola, causando um trauma ávido, de uma culpa irrisória.

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Uma obra visceral, que mostra uma mistura de sentimentos, colocando uma garota negra e LGBT ao centro da trama, trazendo um interesse mais sagaz e relevante, ao suspense voraz e dramático aplicado à narrativa, com protagonistas femininas e em camadas personagens, inspirado “na influência que ele teve no estupro cultura em universidades de todo o mundo. Eu também estava na universidade depois de mim, e eu senti uma mudança dramática na dinâmica de género no campus e na forma como as instituições que tinham anteriormente ignoraram muitos desses incidentes, foram forçados pelos estudantes a reconhecer o dano do crescente sexismo e da cultura do estupro em seus campus“, completa Faridah Àbíké-Íyímídé.

Onde repousam as mentiras é um reflexo de histórias, livros e momentos dos quais a autora viveu e absorveu ao longo de sua vida, crescendo com referências centradas em personagens brancos, cis e heterossexuais, aonde ela resolveu mudar a narrativa e trazer diferenciações não apenas para seu livro, mas para a própria vida, mostrando personagens deliberadamente que estão às margens da sociedade ocidental, colocando o leitor como protagonista, fazendo com “que os leitores que leem minhas histórias saibam que merecem ser o personagem principal de uma história interessante e emocionante“, designa a autora que integra falando sobre a importância em trazer justiça e coragem, em tempos de desafios árduos e pressões psicológicas ilimitadas.

Eu acho que é importante mostrar personagens que não são necessariamente resilientes ou fortes em um sentido tradicional. Existe este estereótipo de que as pessoas negras, especialmente as mulheres negras, são tão fortes e têm essa característica sobre-humana de serem capazes de resistir a qualquer coisa, não importa o quão é traumático. Isto é muito desumanizante e por isso os meus livros procuram humanizar personagens negros concentrando-se mais em suas lutas do que na força tradicional“.

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Faridah se compromete em envolver e entreter com veemência seus leitores, levando-os um suspense repleto de engajamento, críticas e diferenciações sociais, buscando a força visceral que há dentro de cada um, enfrentando as dificuldades fragmentadas, mostrando com intensidade como mudar o mundo abusivo do qual vivemos, “dar às pessoas as ferramentas para fazerem perguntas importantes e, por sua vez, desmantelar sistemas”, especifica Faridah, que conclui afirmando com primor “que não há problema em não estar bem e que existem muitas maneiras válidas de responder ao trauma e pesar“.

O livro Onde repousam as mentiras, da premiada autora do gênero de suspense e ficção para young adult, foi publicado no Brasil pela Plataforma21, e visa imergir os leitores mais ávidos nesta incisiva crítica ao sistema opressor e suas falhas em proteger os vulneráveis, levando à todos a uma profunda reflexão sobre racismo estrutural, agressão sexual, preconceito de gênero e homofobia, expondo veementemente as mazelas sociais e as dificuldades enfretandas por uma minoria marcada pelo abuso exacerbado do poder patriarcal.

por Patrícia Visconti

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