Talvez você pense sobre os traços do mangá de Koyaharu Gotoge e a forma como ela desenha Kimetsu no Yaiba, e isso não ressoe como espetacular porque são traços simples. Mas o mesmo não se pode dizer quando o assunto é adaptação, a Ufotable, estúdio responsável pela produção de Demon Slayer continua a surpreender nesse quesito, e Castelo Infinito é a prova viva desse trabalho.
Demon Slayer: Castelo Infinito, estreia nos cinemas brasileiros sob grandes expectativas e algumas polêmicas. A direção tem assinatura de Haruo Sotozaki com produção da Ufotable, a trilha sonora é assinada por Yuki Kaji Uva com Go Shiina, a história faz parte da adaptação do arco final de Demon Slayer dividida em três pedaços, “Castelo Infinito” é a primeira parte dessa trilogia.
Só para relembrar, a última temporada adaptada trouxe um clímax insano quando inverteu o plano dos heróis, ao mostrar o porquê da Lua Superior 4, ter mapeado todos os caçadores durante a temporada inteira. A ideia dos Hashira era lutar e segurar essa batalha contra o rei dos demônios até o nascer do sol, plano frustrado quando o rei sinaliza a ordem para transportá-los para dentro do Castelo Infinito, dando início ao arco final da obra de Demon Slayer. E o Castelo Infinito começa exatamente do ponto final da última temporada, mostrando como cada caçador foi transportado para dentro do covil de demônios. Todos os caçadores ali têm um objetivo em comum, achar o rei enquanto ele dissolve o veneno da Tamaio, para assim, iniciar a batalha enquanto essa recuperação não atinge o ápice.
O problema se apresenta quando o grupo é separado durante a queda, colocando alguns em dupla e outros sozinhos enquanto caminham ou correm dentro da estrutura infinita que se adapta a todo momento, nessa jogatina, três encontros são estabelecidos logo na sequência, essas lutas se iniciam nesse primeiro momento e terminam ao final do filme. Todos, sem exceção, nutriam uma expectativa alta sobre essa primeira parte, e acredite, não existe insatisfação pelo material entregue porque é absurdo o grau de qualidade técnica, seja pela sequência de luta com uma fluidez absurda, ou pelo prolongamento de cenas, pelo jogo de câmera e até o trabalho de luz e sombra. Tudo conduzido por um roteiro dinâmico com passagens de tempo emocionantes embalados por uma trilha sonora em harmonia com pausas de sons.
O Castelo Infinito trás a sensação de uma montanha-russa numa guinada em direção ao ponto mais alto do brinquedo, e diante de tamanho desafio a tendência é descer na maior velocidade possível, tornando a experiência radical e aterrorizante ao mesmo tempo, mas isso não acontece aqui, a história que inicia um combo de três partes deixa a trama lá em cima para as continuações resolverem como vão conduzir essa descida.
A impressão final disso é que nada ficou decidido e tudo pode mudar de uma hora para outra, abrindo possibilidade de vitória dos caçadores e prováveis chances dos demônios superiores saírem vitoriosos também. Nenhum lado se sobressai, mas já nessa primeira parte houve baixas de ambos os lados. No meio de um padrão de alta qualidade, um ponto se destaca e coloca o público na imersão da história, essa é a dublagem brasileira que, consegue captar os sentimentos dos personagens, e transferir todo esse arsenal de sensações na interpretação das vozes, ficou absurdo o trabalho feito nesse longa.
Não é brincadeira, tudo funciona na dublagem para entregar uma proximidade ímpar no trabalho final, seja com piadas realmente funcionais e dentro do contexto, ou nos momentos de maior apelo emocional, com vozes carregadas de medo, drama e incerteza do futuro. Seguido a isso, um ponto também de destaque é a fluidez coreográfica dos personagens durante as batalhas. Inclusive, um dos envolvidos na produção falou sobre esse trabalho e o quanto isso havia lhe custado tempo, e no fim, percebe-se todo o esforço e dedicação dada para esse momento. O próprio Castelo Infinito é um verdadeiro espetáculo arquitetônico, a dinâmica dele em movimento e as várias camadas enquanto se movimenta, criando novos espaços durante a passagens dos caçadores pelos corredores é lindo. Tudo isso é muito bem feito com uso do 2D em junção do 3D, num jogo de luz e sombra espetacular, tudo fica mais magnífico quando a câmera faz um jogo de enquadramento num plano sequência com giros e adaptações às mudanças do Castelo, surreal de bom.
Não se engane, se tratando de emoção essa primeira parte não seria tão boa se ficasse apenas nas batalhas, aqui o roteiro vai decorrer e acende debates sobre perda, luto e motivação, assim como, redenção, propósito e arrependimento, e nesse quesito, a trama na maior parte da abordagem desses temas faz uma dobra no tempo para remeter o passado de heróis e vilões. Então, prepare-se para rir, gritar, aplaudir e chorar, em algum momento a emoção vai tirar lágrimas do seus olhos, isso acontece durante o filme inteiro, do início ao clímax, até epílogo é importante, porque a Ufotable fez um trabalho extraordinário nas 2h30 de material adaptado. Conduzido a narrativa para contemplar o início de cada personagem no universo de Demon Slayer, sobretudo os vilões desse momento, e claro, a trajetória de um pilar específico que se despede já nesse primeiro filme.
Dito isso, é importante falar sobre a absurda bilheteria doméstica de 30 bilhões de Ienes, e também a excepcional abertura no mercado internacional com alta demanda de venda de ingresso na estreia, também a expectativa pela arrecadação final quando terminar o circuito de exibição nos cinemas no mercado externo.
No Brasil, o filme teve uma pré-venda bastante significativa, porém houve intervenção do MP – Ministério Público quanto a classificação, na qual foi estabelecido 18+, colocando menores somente mediante a autorização do responsável ou acompanhado de tal, as redes de cinema dispõe de formas de ressarcimento, e outras meios de creditar os menores que compram ingresso antes da normativa.
Demon Slayer é uma adaptação do mangá escrito e ilustrado por Koyaharu Gotoge, na qual foi publicado 23 volumes pela Shonen Jump de 2016 a 2020, contando a história do jovem Tangiro Kamado, no período Taisho, no Japão, que perde a família inteira vítimas de um ataque de demônio, a única sobrevivente é a irmã Nezuco que, junto do irmão entra numa corporação de caçadores de demônios para lutar enquanto também tenta achar uma cura para tornar lá humana novamente.
O filme Demon Slayer: Castelo Infinito estreia nesta quinta-feira (11) nos cinemas de todo o Brasil.
por Daniel Guimarães






