O rock foi por décadas a trilha sonora da juventude. Nos anos 1950 e 1970, artistas como Elvis Presley, Chuck Berry e The Beatles não apenas dominavam as paradas musicais, mas também moldavam comportamento, moda e atitude dos jovens. A energia das guitarras, o ritmo acelerado e a rebeldia contida nas letras representavam uma ruptura com valores tradicionais e ofereciam aos adolescentes uma identidade própria. Bandas surgiam em garagens, qualquer um podia tentar, e o espírito do faça você mesmo (DIY) se consolidava como parte da cultura jovem.
Nos anos 1980, o rock se diversificou com o hard rock, glam metal e rock alternativo. Bandas como Guns N’ Roses, Bon Jovi, Van Halen, R.E.M. e The Cure conquistaram público e influenciaram moda e comportamento. Nos anos 1990, o grunge e o rock alternativo dominaram, com Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, além do punk revival de Green Day e The Offspring e o rock britânico de Oasis, refletindo frustração e identidade juvenil. Já nos anos 2000, estilos como nu-metal, indie rock e garage rock revival se consolidaram, com Linkin Park, Coldplay, The Strokes, The White Stripes e My Chemical Romance, mantendo vivo o espírito DIY e oferecendo novas formas de expressão para os jovens.
Hoje, o trap cumpre um papel semelhante, tornando-se a música que define toda uma geração. Como uma vertente do rap e integrante da cultura hip hop, o trap conecta os jovens com suas experiências, frustrações e ambições. Artistas como Travis Scott, Playboi Carti e Young Thug falam sobre vida nas periferias, conquistas, desafios e resistência social, tornando-se figuras de identificação para os fãs, assim como Elvis ou os Beatles foram para a juventude de décadas atrás.
A estética do trap também dialoga com o passado do rock, absorvendo e transformando elementos como a moda gótica, atitude contestadora e rebeldia estilística. O gênero atual cria novas tendências visuais, misturando tecnologia, streetwear e referências de diferentes subculturas em uma linguagem própria da juventude contemporânea.
Outro ponto de convergência é a democratização da produção musical. No rock, guitarras e baterias podiam surgir em garagens e quartos improvisados. No trap, os instrumentos deram lugar aos 808, beats eletrônicos e softwares acessíveis.
Hoje, muitos jovens gravam, mixam e lançam suas músicas de casa, mantendo vivo o espírito DIY que fez do rock um movimento autêntico e acessível. Quartos substituem garagens, mas a ideia de criar por vontade própria e sem intermediários permanece.
Com toda essa combinação de estética, atitude e liberdade criativa, o trap não apenas domina as paradas, mas cumpre a função histórica que o rock teve: dar voz à juventude, criar cultura própria e inspirar uma geração inteira. A diferença está nos instrumentos, nas plataformas digitais e nos ritmos, mas o espírito continua o mesmo, autenticidade, expressão e rebeldia em cada batida. O trap é, sem dúvida, o novo rock do século XXI.
por Rodrigo Falchioni




