CARNAVAL 2020: CRÍTICAS POLÍTICAS DA SAPUCAÍ ÀS RUAS

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Foi com a representação de Jesus Cristo como um menino negro, favelado e com o cabelo platinado que a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, relembrou a todos que Jesus era um homem pobre e do povo. A escola campeã de 2019 homenageando a vereadora assassinada Marielle Franco deu o que falar antes mesmo de entrar na avenida. Com o enredo “A Verdade Vos Fará Livre”, crítica direta ao presidente Jair Bolsonaro que muito já utilizou
desta passagem bíblica, a escola pensou em como seria a volta de Jesus nos dias de hoje, vindo do morro da Mangueira. Com o verdadeiro Cristo do Evangelho, a Mangueira levou para a Marquês de Sapucaí o parceiro dos oprimidos, com representatividade da mulher, da população negra, periférica e LGBT.

Ainda no Rio de Janeiro, a Acadêmicos da Grande Rio contou a vida de um líder histórico do candomblé, Joãozinho da Gomeia, símbola da tolerância religiosa. A Portela homenageou os indígenas, e a Acadêmicos de Vigário Geral trouxe um grande palhaço Bozo com a faixa presidencial e fazendo o gesto de “arminha com as mãos” como alegoria. União da Ilha questionou as promessas não cumpridas sobre saúde, emprego, educação e moradia, e São Clemente tratou sobre as “Fake News”. Mocidade Independente de Padre Miguel homenageou Elza Soares, símbolo da luta feminista e a campeã, Unidos do Viradouro exaltou “as primeiras feministas do Brasil”.

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No Sambódromo em São Paulo, a campeã de 2019, Mancha Verde fez críticas diretas à Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e a Paulo Guedes, ministro da Economia, e a atual campeã, Águia de Ouro, trouxe como enredo a educação, e saudou o educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira e constante alvo de críticas do atual governo.

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O teor político, no entanto – e felizmente, não se restringiu apenas às escolas de samba. Longe das avenidas, os blocos de rua e os foliões não deixaram de demonstrar seu descontentamento. De 2016 para cá, diversas palavras de ordem estiveram na boca dos foliões, “Fora Temer”, “Lula Livre”, “Ele Não”, e desde o carnaval passado, gritos de “Ei Bolsonaro vai tomar no c*” se tornaram cada vez mais frequentes.

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Fora os discursos, os foliões se empenharam nas fantasias. Seja para “lacrar”, brincar ou apenas se expressar ideologicamente, não se pode negar que as fantasias dos foliões geram visibilidade ao descontentamento político na imprensa. Declarações de Paulo Guedes sobre as domésticas da Disney, defesa pela abstinência sexual da Ministra Damares, alusão ao esquema de candidaturas-laranja no PSL, a retroescavadeira de Cid Gomes, a crise da água, e a reforma de previdência inspiraram fantasias criativas.

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Se o ano começa só depois do Carnaval, eu já não sei, mas tivemos no Carnaval 2020 um show de representações políticas para dar gás ao deve ser manifestado sempre – e incansavelmente até o que é nosso por direito, ser alcançado. Em momentos em que o discurso de ódio vem de cima, manifestações populares necessitam se fortalecer cada vez mais.

Por Geovana Miranda

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