Paulistano raiz, o cartunista Angeli anunciou nesta quarta-feira (20) sua aposentadoria, após o diagnóstico de afasia, que é um distúrbio de linguagem que afeta a capacidade de comunicação da pessoa, assim notificou sua esposa Carolina Guaycuru, afirmando que as condições da doença foram deturpando desde que o cartunista recebeu o diagnóstico há alguns anos atrás.
“Recebemos o diagnóstico há alguns anos. Essa é uma condição degenerativa e, de um mês para cá, ficou um pouco mais pesada. Achamos que assim ele poderá trabalhar e produzir neste novo momento de vida mais tranquilamente“, disse Carolina, que ainda completou; “Encerra como cartunista, mas não como artista”.
É com tristeza e coragem que a família e os amigos de Angeli comunicam o fim, por questões de saúde, da histórica colaboração entre o autor e a Folha de S. Paulo. pic.twitter.com/5coMYLWL81
— Angeli (@Angeli_) April 20, 2022
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Angeli que nasceu em 1956, e começou a se envolver com o universo editorial aos 14 anos, produzindo fanzines e também na revista Senhor. No ano de 1973 o artista começou a colaborar com a Folha de São Paulo, aonde produziu centenas de tiras sempre sarcásticas e repletas de ironia, tal como Chiclete com Banana, que é considerada até hoje como uma das mais importantes publicações de quadrinhos adultos já editadas no país.
O cartunista ainda contou com a colaboração de diversos artistas, como Luiz Gê, Glauco, Roberto Paiva, Glauco Mattoso e Laerte Coutinho, que foram mais do que parceiros em sua jornada cartunística na cena editorial, qual ele recebeu grandes êxitos ao longo de sua carreira, tal como de “melhor chargista brasileiro” no Troféu HQ Mix, categoria modificada para “melhor desenhista de humor gráfico”, vencendo nos anos de 2013, e no ano seguindo, em 2014, foi homenageado na categoria “Grande Mestre”. Em 2005, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, sendo nomeado comendador da República pelo Ministério da Cultura Brasileiro (prêmio).
Angeli foi um sucesso não apenas no Brasil, mas também no exterior, tendo suas tiras publicadas na Alemanha, França, Itália, Espanha e Argentina, mas foi no mercado de Portugal que obteve mais destaque, tendo uma compilação de seu trabalho lançada pela editora Devir em 2000, ano em que também viu a estreia de uma série de animação com seus personagens numa coprodução da TV Cultura com a produtora portuguesa Animanostra.
Ele ainda foi redator do programa infantil TV Colosso (1993-1996), e também na TV Cultura, entre 1995 e 2005, fez desenhos de cinco segundos, quando dava intervalos dos filmes da emissora, e desenvolveu alguns quadrinhos animados para a Internet e para o Cartoon Network.
Após sua trajetória como como redator de programas de TV, Angeli produziu um longa de animação chamado Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll, com o diretor Otto Guerra. E em 2007, lançou o curta metragem A Cauda do Dinossauro, filme de Francisco Garcia baseado em texto de Angeli, e posteriormente outro curta Dossiê Rê Bordosa, documentário em animação stop motion com direção de César Cabral.
Em 2010, Beth Formaggini lança o curta metragem Angeli 24 Horas e em sete anos depois, pelo Canal Brasil, a série Angeli – The Killer, documentário em animação stop motion com direção de César Cabral e em 2021 o longa-metragem Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente, também dirigido por Cabral.
Em maio de 2016, Angeli deixou a Folha de São Paulo, após mais de três décadas colaborando e contribuindo com o editorial e a cena artística nacional, com suas sátiras inigualáveis e precisas, que se aposenta como pessoa, mas não como artista, e manterá seu legado para gerações, como os projetos que ainda devem ser lançados, como suas obras publicados e exposições, além do mais, a Companhia das Letras produz uma edição em dois volumes com obras selecionadas dos mais de 50 anos de carreira do ilustrador, com a premissa de lançar ainda em 2022.
O Barquinho Cultural 