“Nem Tudo Que Se Vê É Norma” começa como um confessionário. Edson Penha traz da delicadeza de uma percussão com pitadas de outros instrumentos matematicamente colocadas durante uma harmonia doce e triste. Enquanto ele “canta para tentar se distrair”, vem aos poucos ganhando o cenário da música brasileira com seu primeiro disco solo. Antes de seu “Mar Bravio” chegar com dois pés no baixo, o cantor publicou os discos “Rosário: músicas inspiradas no sertão de Guimarães Rosa” e “Bichos de Cá”, dentro de um projeto chamado Nhambuzim.

“Deriva” é a terceira faixa deste novo trabalho, que segue com elementos claros da produção de Daniel Conti – que também possui um trabalho bastante refinado de música brasileira. “Fui” vem com tudo: os sopros de responsa abrem os trabalhos para sair dançando pelas ruas escuras de Paris em plenos anos 40. “Contraposto” aumenta um ponto com sua contemporaneidade, seguida pelo balanço de um tipo de carimbó jazzístico em “Crupiê”.

E quem nunca viveu no ‘forrozeado’ de um amor “Platônico” que atire a primeira pedra. Mas, cuidado! Camarão que dorme, a onda leva… E você pode acabar no “Zero“ a zero intenso. “Teu” começa nas batidas do coração, até que o “Inverso de um Sim” questiona todas as palavras não ditas, com o acordeon preciso e cheio de lamento de Gabriel Levi. Também professor de geografia, Edson Penha não deixa de dar lições cheias de poesia e uma melodia de quem espera, em “Carta a Isabella“.

As “Galáxias” que encerram o trabalho sintetizam belos acordes, transmitindo a sensação do próprio caminhar na lua – ao mesmo tempo que um violão singelo, romântico e suave vem cantar o amor no fim de tarde. O projeto trouxe ainda os violoncelo do cubano Yaniel Matos. Do blues ao rock, o disco passa pelas nuances nacionais de forma bastante cuidadosa.

Por Carol Tavares