E o Vento Levou, um filme marcado pela idealização de seu tempo discordante com a atual interpretação de uma época. O longa é datado de 1939, dirigido por Victor Fleming (apesar dele não ter dirigido a totalidade do filme, contando com outros diretores), produzido por David O. Selnickz, é provavelmente o maior representante da era de ouro de Hollywood.
Quando analisamos os números do longa (mesmo para a época) todos são estrondantes, seja em produção ou arrecadação, sendo a maior bilheteria da história (claro, quando reajustada pela inflação), mais de 1400 atrizes testadas para o papel da personagem principal, o número de figurantes, como também oito vitórias no Oscar… toda essa grandiosidade é refletida na obra, que enche nossos olhos.
O longa conta a história de Scarlet O’Hara (Vivian Leigh), uma jovem linda e mimada. Tudo que ela mais deseja é o amor de Ashley Wilkes, porém ele se casará com sua prima, Melanie Hamilton. Tudo muda quando a guerra civil é declarada, o mundo de Scarlet se altera, agora ela precisará lutar pela sua sobrevivência e cuidar da fazenda da família.
Scarlet é uma das mais fortes personagens femininas do cinema, totalmente decidida, cheia de si, até chega a ser manipuladora, daquelas que amamos ou odiamos, incrivelmente vivida por Vivian Leigh, mesmo com as contrariedades por conta da atriz ser britânica. O elenco por si é grandioso, Clarck Gable (ator já veterano da Hollywood da época) vive Rhett Butler, par romântico de Scarlet, que nos traz um dos mais complexos e enredados romances da 7ª arte. Olivia de Havilland vive Melanie Hamilton, de forma suntuosa, despertando uma certa disparidade em quem assiste, uma vez que sua personagem é tão bondosa, ingênua… e Scarlet, seu oposto, sendo ao mesmo tempo amiga e inimiga de Melanie.
A principal questão que atualmente é levantada sobre o filme é a romantização dos confederados (escravistas do sul norte-americano), muito possivelmente derivado do livro no qual este é baseado, uma vez que a história nos é contada pela visão dos sulistas. Essa romantização tem seus problemas na retratação dos escravos que são felizes em servir e fiéis aos seus patrões.
“Houve uma terra de cavaleiros e campos de algodão denominada ‘O Velho Sul‘. Neste mundo, o galanteio fez sua última mesura. Aqui foram vistos pela última vez: cavaleiros e suas damas… Senhores e escravos. Procure-os apenas nos livros, pois não passam de um sonho a ser relembrado. Uma civilização que o vento levou...”.
Chega a ser paradoxal que, mesmo com esta idealização, a produção é responsável pela primeira pessoa negra a ganhar um Oscar. Hattie McDaniel, a atriz que interpreta Mommy, escrava que praticamente criou Scarlet, levou a estatueta na cerimônia de 1940.
Marcado por um design de produção único, que consegue retratar monumentalmente as mansões e os ambientes mais luxuosos, além das consequências da guerra, sendo incrível quando pensamos na idade do filme, com seus já 80 anos. Esse somado à fotografia única, do colorido novidade na época, que traz cores fortes e vivas contribui imensamente para a inserção, como também a majestosa trilha sonora de Max Steiner.
Mesmo com a dualidade de interpretações que diferentes épocas geram, o filme deve ser assistido e analisado, nos levando a refletir sobre o tempo e suas mudanças.
E o Vento Levou é um filme grandioso, um épico único de uma Hollywood em que aparentemente tudo tinha que ser deslumbrante.
Por Lucas Aaron