Os quadrinhos muito além do entretenimento

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Desde que o autor e quadrinista, Mauricio de Sousa anunciou sua candidatura à Academia Brasileira de Letras, muitas contradições estão sendo somadas sobre a importância e relevância ds histórias em quadrinhos dentro da literatura e o poder de incentivar e influenciar leitores por meio desta arte.

Mas, não é de hoje que essa discussão rende um debate desconfortante e necessário para ser debatido, afinal, quadrinhos é ou não literatura? Muitos podem achar que sim, por fazer parte da inclusão literária de qualquer indivíduo, mas pesquisadores e profissionais da área, afirmam que não é, já que se trata de uma expressão mais artística do que literário, pelos quadros atribuídos em suas histórias.

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Como a relata a mestre em comunicação e educomunicadora Natália Sierpinski que parte sobre a concepção que “as histórias em quadrinhos possuem uma linguagem própria, que usa a complementariedade da imagem e do texto para formar novos significados que não seriam possíveis apenas com o texto. Barbara Postema e uma autora que aborda a linguagem das HQs e cita como a imagem por si só já é narrativa, e como podemos ter HQs sem o uso do texto, por exemplo“.

Assim acrescenta a historiadora e pesquisadora brasileira da área de histórias em quadrinhos Laulña Machado que diz “que quadrinho é quadrinho e ele é legitimado como tal. Não é literatura, não é poema, não é prosa, não é crônica… É quadrinho. Sobretudo, quadrinho é das letras também. E isso não o diminui, só o qualifica. Tanto em sua área mais próxima como artes e letras, quanto nas suas adjacências que também são determinantes para a sua construção e consumo“.

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Dentre esse debate sobre aceitar ou não os quadrinhos dentro da literatura, estão os comentários sobre a entrevista do jornalista James Akel à Veja, onde ele desmerece os quadrinhos como obra literária e até a candidatura de Mauricio de Sousa na ABL, afirmando que resolveu se inscrever após a academia ter aceito a candidatura do quadrinista , e ainda afirmou que quadrinhos estão bem longe do campo, pois é entretenimento, não da educação.

Mas, assim como Akel defende tanto esse raciocínio e desconhece o poder educacional de Mauricio de Sousa ao longo de suas mais de seis décadas de carreira, sempre engajando e influenciando gerações através de seus gibis e histórias com a Turma da Mônica?

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Assim, cai na teoria e que literatura só é válida quando está na academia e não naquilo que dá prazer e entretém a população, como os quadrinhos, que apesar de muitos alegarem que as pessoas pouco leem, há dados que a vendagem das publicações são as maiores do país, superando até os leitores de livros, mostrando um novo patamar dentro da cena literária nacional, em um futuro em que as histórias, as aventuras e os personagens que inspiram e engajam a cultura pop também estão dentro das HQs.

Reconhecer então um autor como Mauricio de Sousa, que consegue manter leitores por mais de 60 anos com a mesma força de sempre, é um ganho substancial que a Academia Brasileira de Letras pode ter para fortalecimento em sua preservação da memória nacional dos autores e difusão da leitura“, comenta o jornalista e Presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil – ACB, José Alberto Lovetro.

Por isso, não podemos apenas focar em relevância literária dentro de uma sociedade tão ampla e criativa quão a nossa cultura popular, como esclareceu a professora e pesquisadora brasileira da área de história em quadrinhos Dani Marino sobre a importância eminente de Mauricio de de Sousa no universo cultural do brasileiro, sendo um reconhecimento popular do autor dentro da academia, e dos quadrinhos como literatura.

“Mauricio é um artista muito querido dos brasileiros e se você perguntasse aos brasileiros o que eles acham, não tenho dúvidas de que a maioria das pessoas seria a favor que ele ocupasse a cadeira. E eu sinceramente torço por isso. Acho que o motivo de ele não ser eleito, caso isso ocorra, é mesmo preconceito contra uma das expressões artísticas mais queridas do país“.

A professora ainda completa afirmando que; “A importância da Turma da Mônica na alfabetização e letramento de milhões de brasileiros é um fato, não é algo passível de discussão. Há uma infinidade de matérias e trabalhos acadêmicos que atestam isso“.

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Entre discussões e argumentos, cada um tem sua posição sobre os quadrinhos, apesar de até um dos maiores prêmios nacionais de literatura, o Prêmio Jabuti, já ter adicionado a categoria em sua premiação, dando total importância ao setor e aos artistas, condecorando e aclamando, como Marcello Quintanilha, Marcelo D’Salete, Gidali Junior, Rafael Coutinho, Rafael Calça e Jefferson Costa, que foram condecorados após uma discussão intensa e um abaixo-assinado capitaneado pelos quadrinistas Wagner Willian, Ramon Vitral e Érico Assis, que conseguiram que a categoria adentrasse ao maior prêmio literário do Brasil.

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Todavia essa conquista rende até hoje uma luta árdua para atribuir este reconhecimento significativo e artístico à nona arte dentro cenário literário, gerando conflitos e imposições, tal como de James Akel, para desmerecer e limitar avanços consideráveis que profissionais dos quadrinhos obtiveram ao longo de décadas, dando assim, espaço e reconhecimento para que as histórias em quadrinhos fomentem mais leitores e novas obras cresçam e circule pelo país.

por Patrícia Visconti

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