Ele é jornalista, roteirista, editor e quadrinista, já trabalhou com um dos maiores desenhistas do Brasil, o mestre Ziraldo, mas a história de Victor Klier e de como ele chegou até aqui, poucos conhecem. Fugiu de casa, foi expulso da casa da ex-namorada de uma amigo, andarilhou pelas ruas do Rio de Janeiro e levou bronca até do Ziraldo. Nota-se que não é muito comum essa história, pois bem, apesar de parecer contos da Carochinha, Klier passou por alguns perrengues até conseguir conquistar seu objetivo e ter seu material publicado.
Quando era criança, Victor sempre foi um aficionado por histórias em quadrinhos, lia tudo que caía em sua mão, mas além disso, ele imaginava e criava histórias, na época morava em um sítio na zona oeste do Rio, e transformava seus animais de estimação em personagens de HQs, criando seus próprios gibis, feitos a mão mesmo.
Com 17 anos, ele teve uma oportunidade em enviar alguns desses gibis ao estúdio do Mauricio de Sousa, mas pela falta de experiência, acabou não dando certo dele entrar para a equipe da MSP. Mas, como dizem, quando Deus fecha uma porta, Ele abre uma janela. Naquele mesmo ano, Klier conheceu Ziraldo, após uma evento em que o desenhista fez em sua escola, e ele pode não apenas trocar uma ideia, mas ir à casa do artista, ganhar um livro autografado e a promessa de um estágio em seu estúdio no futuro.
Anos mais tarde, Victor agora com 20 anos, ele recebeu o convite do próprio Ziraldo para ser roteirista colaborador de um de seus projetos, ele o convidou para ser ilustrador também, mas como o próprio Klier comentou sobre o ocorrido; “sou preguiçoso demais para ser ilustrador e rendo mais escrevendo”, e essa parceria durou alguns anos, até que ele resolveu sair de casa e tentar a sorte buscando algo fixo.
Klier então brigou com sua mãe, fugiu de casa, deixando apenas um bilhete que dizia: “Volto quando conseguir trabalho!”, e saiu atrás de seu objetivo.
Era noite de sexta-feira, e havia caído um tempestade de inundou o Rio de Janeiro, e para piorar o transporte público estava de greve, então ele andou da zona sul a zona norte para tentar abrigo na casa da namorada de um amigo seu, mas os dois haviam brigado, e ela o colocou os dois para correr. Então, ele foi para a casa de outro amigo, que estava num apartamento do pai dele que iria ser alugado, onde Victor passou alguns dias até o apartamento ser alugado.
Após os acontecimentos, ele já estava farto de andar pela cidade, e já não havia mais roupas para trocar, todo sujo e suado, resolveu ir ao estúdio do cartunista, ao chegar lá, a secretária o encarou e perguntou quem era ele, e a única coisa que ele respondeu foi: “Sou o Victor Klier!”. E ela respondeu assim: “Ahh, o menino que fugiu de casa!”.
Nessas horas ele mal podia imaginar como a mãe dele descobriu que ele iria para o estúdio do Ziraldo, mas de fato ela havia ligado para lá. Já que sua mãe sempre foi a pessoa que mais participou de seu ingresso ao mundo dos quadrinhos, tanto que dona Ana Maria Corrêa e Sá Padilha acabou ganhando o título de “Ana Mãe Produções”, por estar sempre atuante em cada realização de seu filho artista.
Sua mãe chegou a construir sozinha uma mesa de luz para presenteá-lo, no início de sua trajetória como quadrinista, permitindo que em 1995 Victor participasse da Animamundi, fazendo com que abrisse todas as portas possíveis, além de cursos, viagens, estágios e todas as possibilidades e oportunidades que apareceram em sua carreira, até trabalhar com um dos maiores artistas gráficos do país. Como ele mesmo comenta, “de nada teria adiantado fugir de casa para ser colaborador do Ziraldo, se não fosse a corujisse materna. Obrigado Ana Mãe Produções!”.
E por fim, Ziraldo o recebeu, lhe deu um sermão daqueles sobre como lidar com sua mãe, pegou um bloco padrão do estúdio deu ao roteirista, apontou para a mesa onde ele poderia se sentar e foi embora.
A partir deste episódio, Victor Klier adentrou finalmente para a equipe do Ziraldo, onde foi roteirista e editor de títulos como, Menino Maluquinho, Pererê e entre outros que foram publicados pelas Editoras Abril e Globo por quase três décadas.
Foi neste período onde Klier criou personagens importantes que fizeram parte da turma do Menino Maluquinho, e foram essenciais para abrilhantar seu portfólio. Jô (Joana), Renata, Pagu, Simone, e Fernanda, todas meninas, e cada uma com uma história distinta e que prendesse a atenção do público para cada uma delas.
Em 2006, o escritor começou a desenvolver projetos mais pessoais, ele queria algo novo, como uma proposta diferente e que não subestimasse o público, então nasceu Dadá.
Criada literalmente de uns rabiscos que Victor fazia para passar o tempo enquanto pensava em um novo roteiro do Maluquinho, ele havia rabiscado pessoas que no lugar de seus rostos tinham janelas, portas e gavetas.
“Achei aquilo interessante e desenvolvi um conceito baseado no dadaísmo (daí o nome da personagem, Eduarda – Dadá). A Dadá tem “cara de janela” porque está aberta para todas as informações que recebe. Já o pai tem “cara de porta” por causa das portas da percepção, que no caso dele é entreaberta, porque já tem dificuldades de se abrir, e a mãe tem cara de gaveta, porque o pintor surrealista, Salvador Dali, dizia que as gavetas representavam a memória (o que seria bem apropriado para uma mãe de família padrão); e mais um leque interminável de personagens com rostos simbólicos“, explica Klier.
Além do mais Dadá tem uma visão de mundo muito parecida com a Mafalda do cartunista argentina Quino, inteligente e distinto de pensar sobre o universo, então ele se baseou em conceitos da filosofia e da arte, passando pela psicologia, história, literatura e até política, algo que ele tentava evitar no início, mas que acabou aderindo para suas tirinhas.
No começo muitos diziam que as pessoas não iriam entender aquelas ideologias, mas ele sempre respondia, que era só pesquisar ou perguntar, já que a ideia era mesmo provocar, estimular a curiosidade e o debate, daqueles que pouco dominavam determinado assunto.
E hoje, Klier pretende desenvolver um álbum de tiras da Dadá, de forma independente, para ser lançado ainda este ano de 2019, através de uma campanha do financiamento coletivo pela internet, dando a oportunidade de mostrar novas ideias da Dadá que ela espera até hoje.
Além do mais, o artista ainda têm outro projeto a ser lançado, “Turma da Febeca”. Febeca, chama-se Fernanda é uma personagem que nasceu criada para a turma do Maluquinho, ela é cadeirante, irônica e nada politicamente correta. E por esse motivo, a editora não aceitou o projeto para ser publicada, então Victor modificou e desenvolveu um novo conceito: O quadrinho de inclusão!
Aonde ele entrevistou duas garotas cadeirantes, e deram o perfil para a personagem e todas as informações sobre como era viver com a deficiência e como queriam ser vistas pela sociedade. E como Klier percebeu o projeto foi ganhando forma e crescendo, até rápido demais, e logo inúmeras personagens com algum tipo de deficiência.
Um tempo depois, ele percebeu que havia outras meninas que também era excluídas, mas não era deficiente, então o autor acabou diminuindo o número de personagens e incluindo outras, nascendo personagens lésbicas, adolescentes que sofreram abusos diversos e todo um espectro de características e personalidades comuns na vida real.
Então, Febeca ganhou novos amigos e conseguiu ser publicada no jornal O Globo (2010 a 2012), sem abrir mão do seu bom senso, mas mas infelizmente sem muito apoio ou divulgação da ideia foi cancelada. Mas, Klier não desistiu, e está trazendo novidades que deve ser lançadas em breve de forma independente sobre a Febeca.
Para conhecer mais sobre o Victor Klier acesse suas redes sociais e bata um papo diretamente com esse artista, com um jeito diferente e de personalidade peculiar para conquistar seus anseios e objetivos.
Adorei o texto e tudo isso é vc e sua mãe….. D Ana Produções é uma parada……. Victor tem a quem puxar….
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